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A GANGORRA

Se um sair, o outro cai!

Por: Ademilson José

Em termos de ironia, o escritor Umberto Eco profetizou muito bem quando disse que o mal das redes social seria o fato de elas terem dado voz aos idiotas. E pensando bem, o problema é anterior à Internet e está relacionado mesmo é a mídia de um modo geral, destacadamente a televisão.

E a maior prova disso pode ser facilmente verificada através de um dos problemas mais graves e mais badalados do cotidiano que é a corrupção. Veja que, por cuidados próprios ou mesmo muito levada pela mídia, nossa população não passa uma semana sem contestar, criticar, badalar um problema de corrupção, consequentemente, sem falar num ou mais corruptos.

Quase todo dia, temos sempre um corrupto ou mais na pauta das manchetes e das badalações. Operações policiais que tomam café da manhã e que causam insônia de noite, enfim, um exercício que além de sede conjunta de justiça, também divide cidadãos, amigos e no mais das vezes até parentes dependendo do partido que o corrupto preso venha a pertencer.

Olhando direitinho, é como uma lapinha: quando o corrupto preso é do cordão azul, os cidadãos do cordão encarnado acompanham as notícias atentos e comemorando; quando o corrupto é do cordão encarnado, a situação se inverte numa rotina política frenética que desemboca sempre na urna de uma eleição que, no Brasil, é como a Bienal do Livro que tem de dois em dois anos.

Ou seja, ao invés de se colocar unida contra a corrupção de todos os corruptos e buscar candidatos alternativos (não envolvidos em corrupção), a sociedade se divide com uma parte defendendo seus “corruptos preferidos” e a outra parte defendendo seus “corruptos prediletos”. Como disse, estabelece-se uma lapinha e essa lapinha nunca foi tão agressiva, tão forte e tão absurda como tem sido nesses últimos anos ou décadas de “lulopetismo versus bozofanatismo”.

Estabelecida a confusão, que destrói afetos de amigos e parentes e que já tem registros até mesmo de mortes, reina a gangorra que tem com mediadoras – às vezes, cúmplices -, uma tal de justiça e legislação eleitoral cujas regras do jogo já nascem e são eivadas de corrupções, como é o caso de um senador poder ter a mãe como suplente, e como é o caso de se ter direito a uma para cargos executivos e eternas reeleições para cargos nos parlamentos.

Assim, através de sucessivas vitórias que conseguem já usando o próprio dinheiro público – e hoje mais que nunca também o dinheiro do Fundão Eleitoral -, os corruptos se repetem e se alternam no poder numa gangorra sem fim que o TSE chama de “festa da democracia”(cic). Quando se cansam, morrem ou são pressionados internamente em suas famílias, os corruptos transferem seus mandatos para parentes e a democracia segue aos golpes e aos trancos e barrancos.

As redes sociais e suas fack news contribuíram para agravar muito tudo isso e Umberto Eco tem toda razão, mas, olhando a vagar, é coisa muito anterior a elas. É coisa que, bancada pelos corruptos e pelos seus cúmplices de governos e de oposição, é exercida com elevada destreza pela própria imprensa no cotidiano político da (inocente) população.

Com sua população atritada e dividida entre corruptos preferidos nenhum país pode mudar. Sem construir candidatos alternativos nenhum país sai do lugar. Quanto mais acirrada for a gangorra política, mais um lado se alimenta do outro. E mais ambos os lados ganham em detrimento da sociedade como um todo.

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