Tema da redação do exame neste ano é “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”.
O tema da redação do Enem 2024 é “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. A partir dele, as professoras Erika Leal e Josy Kelly indicaram três exemplos de repertórios que os candidatos poderiam ter usado na prova de produção textual com essa proposta.
Na lista, as professoras de redação apontam música, obra literária e até uma data comemorativa. Veja abaixo:
‘A carne’ – interpretada por Elza Soares
Para a professora Erika Leal, a música “A carne”, interpretada por Elza Soares, pode ser abordada na redação do Enem para desenvolver questões sobre subserviência e inferioridade, e que a canção também pode auxiliar a criar argumentos que embasem quanto a inclusão dos negros na sociedade brasileira.
“Sugiro como repertório a música ‘A carne’, interpretada por Elza Soares, que tem um trecho que diz que a carne negra no mercado é a mais barata, fica perfeito para a gente trabalhar essa questão de subserviência, inferioridade, além de repertórios que você trabalhe a inclusão de um grupo que tem tão pouca representatividade hoje no Brasil”, explicou.
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A música repete diversas vezes a frase “A carne mais barata do mercado é a carne negra”, fazendo uma denúncia incisiva sobre o racismo e a desvalorização da vida dos negros na sociedade. A música também aborda a marginalização e a exploração sofrida pela população negra, que é submetida a condições de trabalho precárias, encarceramento em massa e negligência nos serviços de saúde, especialmente em hospitais psiquiátricos.
Veja um trecho da música “A carne”, de Elza Soares:
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
(Só serve o não preto)
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos
A carne mais barata do mercado é a carne negra (diz aí!)
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Festas populares no Brasil – obra literária escrita por Lélia Gonzalez
A professora Josy Kelly sugeriu o livro “Festas populares no Brasil”, que é uma obra literária escrita pela antropóloga Lélia Gonzalez, que foi pensadora, acadêmica e militante do movimento negro brasileiro. O livro foi publicado em 1987, pela editora Boitempo.
A obra reúne textos informativos sobre diversas festas brasileiras, afro-brasileiras e de igreja, e aborda temas como a herança africana na cultura brasileira, a integração entre o profano e o sagrado, e a contínua reinvenção das tradições religiosas. Josy explica que a obra aborda questões culturais importantes que podem ser referenciadas na redação.
“Como repertório, trouxe como sugestão a obra ‘Festas populares no Brasil’, da Lélia. Ela fala muito sobre essa questão cultural, as danças, as tranças, a comida, essa invisibilidade desse povo diante do nosso contexto histórico, diante da nossa herança cultural, e [com essa sugestão] o candidato consegue falar sobre isso. Herança cultural, invisibilidade, a própria desigualdade”, sugeriu.
Premiada na Alemanha como um dos “mais belos livros do mundo”, na Feira de Leipzig, a obra foi relançada em uma edição que inclui mais de 100 imagens, textos e documentos que ampliam sua profundidade e alcance. Esta edição atualizada também conta com o texto integral de Lélia, proporcionando uma experiência ainda mais completa e imersiva sobre a riqueza e a diversidade das festas no Brasil.
Trecho do livro
“Se o bumba meu boi ocupa lugar de destaque no quadro do folclore brasileiro, isso acontece porque, ao se adaptar às circunstâncias de lugar e tempo, ele demonstra um extraordinário vigor e uma especial maleabilidade. Cumpre ressaltar que, por isso mesmo, o bumba meu boi foi levado para a África, com todas as suas características brasileiras. Levado da Bahia para a cidade de Lagos, na Nigéria, por ex-escravos que para lá retornaram após a abolição da escravatura. Vale notar que, enquanto “brasileiros”, seus descendentes não deixaram morrer uma tradição que lhes diz respeito”. “Aqui, mais que em qualquer outro lugar, a noção de ‘deus em nós’ confere plenitude ao significado de festa. As festas afro-brasileiras são o efeito simbólico de um extraordinário esforço de preservação de formas culturais essenciais trazidas de outro continente e que, aqui, foram recriadas sob condições as mais adversas.
Afinal, a população negra não veio para o Brasil como imigrante, mas como escrava.
20 de novembro – Dia da Consciência Negra
Josy Kelly, professora de redação, ainda sugeriu o Dia da Consciência Negra como aporte para embasar a construção de ideias na redação do Enem. O Dia da Consciência Negra passou a fazer parte das efemérides nacionais em 2003 e foi instituído em no calendário nacional pela então presidente Dilma Rousseff, sob a lei de número 12.519, no dia 10 de novembro de 2011.
“Nós tivemos também o Dia da Consciência Negra, que passou a entrar no calendário como feriado. Então isso pode ser pensado e levado em consideração para o candidato desempenhar e desenvolver dentro da prova”, finalizou Josy.
O dia da consciência negra surgiu na segunda metade dos anos 1970, sua primeira comemoração se deu por um grupo de 12 negros que se reunia no Clube Náutico Marcílio Dias, na cidade de Porto Alegre. O clube foi o único na cidade a ceder um espaço ao grupo, os outros clubes não permitiam que afrodescendentes frequentassem seus espaços. A data de 20 de novembro marca a morte de Zumbi dos Palmares, assassinado por tropas coloniais brasileiras em 1695 e líder do Quilombo dos Palmares, que resistiu por 95 anos na Serra da Barriga, em Alagoas.
Aristelson Silva com G1 Paraíba